Por Simone Oliveira
Recentemente comecei a rever no tempo livre a série F.R.I.E.N.D.S. Agora ela está disponível na Netflix, então pela primeira vez é possível assisti-la um episódio atrás do outro em vez das cenas desconexas de antigamente na Warner. E fazia tanto tempo que eu não acompanhava que sinceramente já havia esquecido boa parte da história.
De qualquer forma, parei para pensar, depois de terminar a primeira temporada, na sensação que esse seriado aparentemente leve e hilário me passou. Sim, porque tudo o que nós acompanhamos causa impressões e mexe com as nossas emoções, os programas são feitos para isso, pra nos instigar, nos prender e nos fazer querer ver mais e mais daquilo. Os dramas obtêm sucesso pelo suspense, o terror pelo retrato do terrível e horroroso, as comédias por fazerem rir. Talvez por isso nada seja 100% como o cotidiano, porque o dia-a-dia não é estimulante o suficiente, gera tédio e aborrecimentos, desanima mais do que motiva. A vida é assim na maior parte do tempo.
Mas o que me chamou a atenção é que essa série transmite uma emoção diferente de qualquer outra série classificada como “nostálgica” para quem viveu nos anos 90. Eu não a acompanhei enquanto ela era enviada ao ar pela primeira vez. Acompanhei outras que hoje, com o olhar crítico penso não serem tudo aquilo que eu acreditava ser lá pelos meus 11 ou 12 anos.
O que me prendeu não foi a comédia nem as picuinhas, foi algo muito mais simples. Tão simples que hoje as pessoas até se esqueceram, parecem não se importar e até vivem bem sem. Foi a AMIZADE.
É praticamente surreal a maneira como eles se relacionavam entre amigos, não havia medo de desagradar, não havia duas caras e “bullying” quando alguém era estúpido, não existia politicamente correto, as brigas se resolviam porque as pessoas se falavam e principalmente: não havia o maldito celular pra prestarem mais atenção na tela do aparelho do que na conversa! As mulheres não se espetavam pelas costas e os homens entendiam que elas eram amigas sem benefícios até que surgissem interesses mútuos, mas a “pegação” nunca foi o intuito primordial.
Talvez isso soe ingênuo, mas a verdade é que F.R.I.E.N.D.S é a representação de amigos sem interesses por trás. Ninguém estava ali para tirar vantagem da situação alheia, nenhum deles sentia inveja em segredo do seu semelhante ou queria ver o outro na pior para se sentir melhor, a maioria estava quebrada financeiramente mas em momento algum eles aparecem revoltados com a vida, não que essa seja a realidade, porém, é tão comum ouvir todo mundo reclamar de como as coisas vão mal e de como eles têm tanto trabalho e como dão tão duro mas nunca é suficiente que parece não haver outra maneira de se viver. Isso cansa!
Reclamar do azar que a vida nos dá além de não nos levar a um patamar melhor, apenas nos deixa pra trás, nos embaraça. Encarar a realidade é que nos faz mais fortes. Quem conseguiu melhorar no fundo foi quem não reclamou, aceitou a realidade assim como a possibilidade de transformá-la. Mas isso é assunto para outro dia.
O que eu quero dizer aqui é: nos últimos anos a humanidade de maneira geral tem se tornado mais egoísta; cada indivíduo está tão focado em conquistar um bom lugar no mercado de trabalho ou status social elevado e com a competição acirrada como nunca antes, isso tem tornado as coisas mais difíceis e a tecnologia só contribuiu para que o mundo se isolasse ao ponto de não nos reconhecermos nem entre amigos. Passamos a semana em nossas atividades e no fim de semana quando nos encontramos perguntamos a quem costumávamos saber o que estão fazendo de bom e o quais são seus planos em seguida. Puramente mecânico. Porque não conseguimos pensar em mais nada. Porque não temos mais nada em mente e honestamente não nos importamos o bastante com essas pessoas para desenvolvermos conversas mais profundas, não nos atrevemos a parecer vulneráveis ou que temos problemas pessoais muitas vezes imprevisíveis e ao invés de nos atentarmos ao buraco em que estamos afundando, tentamos disfarçar nossas tristezas e aflições em bebida, cigarro e outras drogas, ou adivinha como? Reclamando.
O TOP 5 das conversas gira em torno do tempo, de perguntas superficiais como “No que você trabalha? O que você estuda?”, ou da situação do país e do governo e da vida de um conhecido em comum.
Não confiamos nos outros. Aprendemos que a maioria tiraria o nosso tapete ou pisaria no nosso calo para pegar nosso lugar se pudesse, não contamos mais segredos porque eles não serão guardados e ainda rirão de nossa cara ou atirarão pedras ao saber de nossos erros. Não desejamos mal abertamente “porque isso seria algo tão nojento”! Apenas mantemos as aparências e nos agradamos em criticar. Continuamos a errar, mas praticamos boas ações pra mostrarmos que nos compadecemos com os necessitados. Somos hipócritas, defendemos ideais de igualdade salarial e paz mundial, mas se isso afetar a nossa remuneração e o preço do nosso estilo de vida nós lutamos contra. Nós somos cegos, cegos de inteligência emocional.
Pois conhecimento temos a dar e vender. Mas, raciocínio e sabedoria, as habilidades que como humanos deveríamos ter em vantagem para com os animais…Ah, nisso somos deficientes. E eles têm muito a nos ensinar.
E como eu queria ter amizades verdadeiras! É tão difícil ter UM amigo, quem dirá seis!
Simone Oliveira. Santos-SP. Bacharel em Engenharia Civil por formação e escritora por gosto. Estuda para concursos e se dedica às aulas particulares de exatas, ao namorado, à família e às suas atividades na igreja. Ainda não descobriu seu propósito na vida, mas tem certeza de que tem um. Pede que Deus a guie por esse caminho até a sua volta.