O que eu preciso mudar?

Por Isaias Costa

domino

Eu sempre gosto de falar e repetir que as grandes mudanças, aquelas que se tornam definitivas, sempre ocorrem de dentro para fora, e não o contrário, como muitos insistem em fazer. Nós temos um sério problema de encontrar culpados para as nossas mazelas, nossas escolhas ruins, nossos relacionamentos desgastados, nossas dívidas. Por quê? Quem é o culpado? Nós mesmos, por não termos feito as melhores escolhas.

Para refletir um pouco sobre isso, compartilho um texto incrível do escritor Jorge Antônio Monteiro de Lima. Leia e reflita sobre essas várias questões que ele coloca…

Mudanças

Tem gente que muda cortando cabelo, fazendo pilling, trocando o guarda-roupa. Troca de calça, de brinco, segue moda como se esta fosse lhe dar sentido à vida ou preencher seu vazio existencial. Buscam tanto mudar que, com o tempo, se esquecem de sua própria essência e gostos anulando sua identidade e espirito. Viram apenas mais um no consumismo desembestado, com guarda-roupa cheio de peças jamais usadas e alma vazia. Ser mais um? Conhece essa figurinha repetida? Quanta gente vive endividada no Brasil-maravilha – apregoado pelo governo – porque quis mudar de carro ou entrou no cheque especial e nos financiamentos para tentar ter o que acreditou que preencheria seu vazio?

Outros mudam trocando de casa, de vizinhança, de clube, acreditando piamente que o problema está em sua diversão ou nas rodas de convívio. Novamente acreditando que de uma forma material pode se encontrar um sentido para a vida. Alguns chegam a trocar de igreja como quem troca de roupa íntima, buscando a mudança pelo convívio, sua tribo. Buscam tanto que sequer lembram do que procuravam encontrar. Nada satisfaz porque a busca não era de espírito, mas apenas de matéria e aceitação social pelo convívio. Mas para que ter o espírito pleno? Terceiros ainda tentam mudar pelo trabalho: mudam de emprego, de setor, de carreira. Por uma profunda dicotomia com seu dom natural, jogam fora seus sonhos atrás do velho discurso de estabilidade econômica. Muita gente vendendo sua alma para o diabo, trocando o tempo da vida por dinheiro. Quantos vimos fazendo faculdade, comprando um diploma à prestação? Quantos, ao longo dos anos, escolhendo, por sorteio, sua profissão? Quantos anularam o que realmente gostavam de fazer para seguir aquela carreira que “dá dinheiro” proposta pelo senso comum? Quem perde a alma neste caso rompe com seu próprio destino, se afastando de seu caminho de realização, se jogando na vida enfadonha, sem graça e sem sentido. Mas para que lutar? Para que estudar e se dedicar?

Na sequência os quartos, ainda mais radicais, tentam mudar de vida pensando que seu problema está no ficante, namoro, noivado ou até mesmo no casamento. Muita gente projeta a insatisfação escolhendo mal seus parceiros, levando sua vida afetiva de forma inconsequente ou ainda “vivendo um dia de cada vez”, sem perceber que na vida afetiva as escolhas têm repercussões para ambos os lados e que pessoas não podem jamais ser vistas como mercadorias ou peças de roupa. Na afetividade projetamos nosso consumismo e materialismo e sempre precisamos de outro bem que nos faça mais feliz. Mas qual beijo será o mais gostoso? Qual sexo trará o orgasmo mais fantástico?
Os quintos, mais radicais ainda, rompem vínculos com seus familiares, somem no mundo, abandonam os filhos e tentam desaparecer, reaparecendo após décadas. Tentando apagar o passado, por vezes traumático ou doloroso ou apenas pelo egoísmo ou o cansaço da vida vazia cavada com as próprias mãos.

Mas novamente voltamos a ver a necessidade de mudança como uma instância física, material, sendo que o problema neste caso não é visto pelo próprio indivíduo como seu, mas sim projetado na família, nos amigos, no lugar em que está vivendo.

Por fim os últimos: não investem em armários, em roupas, em ações caras de clube ou no endividamento para trocar de veículo. Investem em cultura, em seu hobby, em auto-conhecimento e em seu equilíbrio interior.

Rompem com o ciclo materialista e resgatam a harmonia com o espaço em que vivem e a harmonia com a natureza. Mudam por dentro. Em nenhum caso a necessidade de mudança deve ser evitada porque a vida é energia, é transformação constante. O que
devemos perceber é que primeiro devemos mudar por dentro. Mudar nosso consumismo, nosso materialismo, resgatar nosso espírito e alegria de vida e então, na sequência, após resgatar a simplicidade, mudar quando for o caso.

* Para ouvir a leitura desse texto basta clicar [aqui]

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