Os macacos e o doce de coco

Por Isaias Costa

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Uma das melhores estórias que já li e que fala sobre o APEGO de uma forma geral foi contada pela querida monja budista Jetsunma Tenzin Palmo no seu livro intitulado “No coração da vida”. Transcrevo abaixo o trecho no qual ela conta essa estorinha…

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“Não estamos presos à roda da vida. Nós é que a agarramos com força, com as duas mãos. Há uma história que sempre se conta sobre uma forma particular de aprisionar macacos na Índia. Toma-se um coco com um pequeno buraco. Por esse buraco, com tamanho suficiente para passar apenas a mão do macaco, coloca-se um pedaço de doce de coco. O macaco se aproxima, sente o cheiro do doce, coloca a mão no buraco e agarra o doce. Ele fecha a mão para agarrar o doce e dessa forma não consegue mais tirar a mão do coco. E então o caçador consegue pegá-lo. Nada prende o macaco ali. Tudo o que ele precisava fazer era abrir a mão e estaria livre para fugir. Ele fica ali preso apenas por desejo e apego, que não o permitem seguir. É dessa forma que a nossa mente funciona. O problema não é o doce de coco. O problema é que não conseguimos soltá-lo. Vocês entendem? O problema não é o que temos ou o que não temos, mas o quanto nos agarramos às coisas.”

Jetsunma Tenzin Palmo

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Ela tem muito a nos ensinar! O que os macacos fazem sem perceber é se FIXAREM num desejo sem pensar em uma saída para uma situação de perigo, que é o aprisionamento pelos homens.

Essa estória pode ser levada para o apego em amplo sentido: a dinheiro, a um cargo, a pessoas, a preceitos religiosos etc.

As pessoas agarram seu pedaço de doce de coco que pode ser qualquer um desses exemplos que dei logo acima e nunca cogitam a possibilidade de ABRIR MÃO. Como já falei em um dos textos do blog que mais gostei de ter escrito: “abrir mão é uma alegria”, pode nos trazer uma leveza e uma sensação de completude absurda!

Aproveito essa colocação para compartilhar esse texto que complementa lindamente a mensagem que quero transmitir aqui. O link está logo abaixo.

A alegria de abrir mão

Outro detalhe interessante dessa estória é que os APEGOS excessivos retiram boa parte da nossa SENSIBILIDADE. Os macacos desse experimento com os cocos, depois de um tempo de desespero ficam com os punhos extremamente machucados ou até mesmo sangrando e ainda assim não conseguem abrir as mãos para se libertarem do coco. Já pensou?

Quantos de nós não fazemos isso? Está doendo! Estamos sofrendo! Mas não abrimos nossa mão, não libertamos aquilo que está nos fazendo sofrer.

Se é um padrão de vida que não se encaixa mais no ganho financeiro, preferimos nos endividar porque é quase uma desonra pensar em baixar o padrão de vida.

Se temos um trabalho que não nos realiza, mas que nos dá segurança e um bom salário, preferimos ser infelizes e ficarmos doentes a sair desse emprego, afinal! Por que trocar o certo pelo duvidoso não é?

Se estamos namorando ou estamos casados com aquela pessoa que nos faz mais raiva do que proporciona um convívio feliz e experiências bacanas. Não temos a coragem de sermos transparentes e encerrar de vez esse ciclo que já se provou por A + B ter se encerrado! Preferimos sofrer imensamente a adentrar no oceano do desconhecido. É melhor sofrer com o conhecido do que não ter a certeza sobre o desconhecido! Você percebe a incoerência aqui? Ora! Se é desconhecido, é claro que não se tem certeza! E por acaso a vida nos dá certeza de alguma coisa? Já parou pra pensar nisso? Como se diz: “a única certeza é a de que todos nós vamos morrer um dia…”.

Se estamos inseridos numa religião e numa comunidade na qual de coração já sentimos que não está mais preenchendo aquele espaço voltado para a espiritualidade, ficamos com medo de ser sinceros e falar o que realmente estamos sentindo! Nos transformamos em robôs que vão repetindo os preceitos mesmo não tendo total convicção sobre seus benefícios para essa conexão com Deus!

Que tal olharmos para dentro de nós mesmos com SINCERIDADE? Ou seja, SEM CERA, sem uma máscara que esconde nossa verdade interior?

Esse é um tremendo desafio! Pode abalar todas as nossas estruturas, tudo aquilo que até o momento acreditávamos ser o certo, ser o melhor, ser o mais adequado, o mais sensato! Será? Se questione! Não tenha medo de se questionar!

Nada paga a sensação de FELICIDADE que provém de uma consciência tranquila! E essa felicidade só pode ser conquistada se você abrir mão, se você deixar o doce dentro do coco e procurar saciar a sua fome com algo que não tire de você a sua LIBERDADE.

Eu posso ter muito dinheiro e não ser escravo dele!

Eu posso ter um excelente trabalho, talvez nem ganhar tanto, mas ser feliz com o que realizo, sabendo que o que faço ajuda a mim e a outras pessoas!

Eu posso me relacionar com alguém sabendo que não sou dono(a) dele(a). A outra pessoa é livre para estar comigo se ela quiser, se não quiser, deixo-a livre para seguir sua vida sem mim e agradeço profundamente por tudo que foi compartilhado e vivido junto!

* Sugestão de texto => Precisamos nutrir o amor genuíno

Eu posso estar numa religião ou numa comunidade religiosa enquanto isso fizer bem pra mim, enquanto eu sentir o meu pertencimento entende? Enquanto eu sentir que isso me faz bem, que é bom conviver com esses amigos! Se esse sentimento se esvaiu, eu tenho todo direito de abrir mão e procurar o doce de coco em outro lugar concorda?

Enfim! Essa é uma reflexão que pode mexer com muita gente, mas é preciso “cutucar” as feridas! Pois só assim é que, quem sabe, talvez, tenhamos a CORAGEM de retirar essa máscara de cera e de fato, nos tornarmos sinceros…

Paz e luz!

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