Por Isaias Costa
“Uma aceitação cega jamais conduz à solução; no melhor dos casos determina uma parada, uma estagnação e passa a carga à geração seguinte.”
Carl Jung
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O que podemos extrair de reflexões profundas a partir dessas poucas palavras do Jung é impressionante. Nesse breve texto vou apenas pincelar algumas coisas!
Inclusive quero fazer um paralelo com a belíssima contribuição psicológica do grande Bert Hellinger, que nas suas obras sobre as constelações familiares criou um conceito chamado “obediência cega”, que é muito semelhante ao que o Jung ensinou como aceitação cega!
Para o Bert Hellinger, a obediência cega é quando repetimos padrões dos nossos ancestrais e nos acomodamos, achamos que “foi sempre assim na nossa família”, ou “quem sou eu pra mudar o que já vem à gerações”, ou “se temos isso na nossa família é porque era pra ser assim”, ou pior ainda, há os que dizem “são os desígnios do senhor…”.
Tudo isso tem um nome: FUGA. É uma forma de autossabotagem para as coisas que precisam ser transformadas. Acho incrível fazer um paralelo entre o Bert e o Jung porque suas linguagens conversam entre si.
As pessoas que fazem revoluções, transformando padrões enrijecidos da família, o Bert chamava de “ovelhas negras da família”, aquelas ovelhas que naturalmente são excluídas por serem diferentes das outras.
O Jung falava sobre elas de diversas formas, como pessoas de natureza mais impetuosa e questionadora, e melhor ainda, pessoas que mergulham no seu self em busca da individuação e integração das suas sombras.
Acho que já deu pra entender onde eu quero chegar não é? Exatamente! AUTOCONHECIMENTO.
É somente através do processo de olhar para as nossas sombras, nossos traumas, nossas resistências, nossas intransigências etc. é que podemos de fato evoluir e “passar de nível” no sentido evolutivo e existencial.
Eu tenho consciência de vários processos na minha família que vem de gerações e gerações e que perduram até hoje por falta de pessoas dispostas a olhar pras próprias sombras e transmutá-las pela luz da consciência. Na minha família não há nada diferente em relação a qualquer outra! Falo isso com toda a tranquilidade do mundo, até para que você que me lê agora se sinta motivado ou motivada a ser essa “ovelha negra”, essa pessoa que vai iniciar uma verdadeira revolução na família, mudando os padrões estagnantes e apequenadores.
A aceitação cega é o tal do caminho mais fácil e você já deve estar cansado de ouvir as pessoas dizerem que o caminho mais fácil é o que leva à perdição não é mesmo? Percebe a linguagem metafórica incrível que essa visão da bíblia cristã nos traz? A perdição é exatamente a perpetuação dos padrões negativos que passam de geração em geração.
Então Jesus falava: “entrai pela porta estreita”. A porta estreita é o caminho de iluminar as nossas sombras, e trabalhar as chamadas “ordens do amor” que tão bem o Bert Hellinger enunciou nas suas obras.
Precisamos tomar os nossos pais, ou seja, respeitarmos e honrarmos por eles nos terem dado a vida e a oportunidade de estarmos vivos, encarnados nesse mundo. Eles foram a porta que permitiram essa dádiva. E sempre agradecermos por estarmos na família que estamos, porque ela é a família perfeita e ideal para que nós como espíritos tenhamos as experiências necessárias para o nosso crescimento. Ou seja, ninguém nasce na família errada. Esta é a lei do pertencimento!
Precisamos saber que há uma hierarquia familiar, os pais estão acima de nós porque eles vieram antes, então devemos ter todo amor e respeito por eles, e consequentemente, por toda a nossa ancestralidade.
Precisamos saber equilibrar o dar e receber em todas as nossas relações. Saber que apenas no equilíbrio entre essas duas forças é que podemos ser felizes e sairmos dessa aceitação cega!
Óbvio que há uma infinidade de pontos dentro das 3 ordens do amor que acabei de citar. Mas quem sabe com o que escrevi aqui eu já esteja lhe incentivando a olhar mais para dentro de si mesmo não é?
Portanto! Que tenhamos a coragem de fazer esse mergulho no autoconhecimento. Assim e somente assim nós poderemos aprender o que é a verdadeira aceitação, que é um movimento belo de transformação do ser a partir da vivência do momento presente, do aqui e agora, que é o único momento que existe e que podemos fazer algo concreto para a nossa transformação…