Precisamos aprender a derrubar os nossos ídolos

Por Isaias Costa

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Outro dia eu li um trecho absolutamente inspirador pertencente ao prefácio do livro “Ecce Homo”, de Friedrich Nietzsche, no qual ele fazia uma dura crítica à nossa tendência em cultuar ídolos. Farei uma breve reflexão a partir destas palavras. Confira!

“Melhorar a humanidade? Eis a última coisa que eu prometeria. Não esperem de mim que eu erija novos ídolos! Que os antigos aprendam antes quanto custa ter pés de barro! Derrubar “ídolos” – é assim que chamo todos os ideais –, esse é meu verdadeiro ofício. É inventando a mentira de um mundo ideal que se tira o valor da realidade, sua significação, sua veracidade… A mentira do ideal foi até agora a maldição que pesou sobre a realidade, a própria humanidade se tornou mentirosa e falsa até o mais fundo de seus instintos – até a adoração dos valores opostos àqueles que poderiam lhe garantir um belo crescimento, um futuro.”      

Friedrich Nietzsche

Ele fala sobre uma série de coisas nesse trecho de sua obra e concordo plenamente com seu posicionamento. Ele diz que a humanidade se tornou mentirosa e falsa até o mais fundo dos seus instintos pois passou a adorar valores opostos ao que poderia trazer crescimento e futuro.

Eu poderia resumir praticamente tudo o que ele diz no que seria o chamado MODELO MESSIÂNICO. Ele compreendeu que a humanidade sempre esteve à procura de alguém para ser “O salvador”, alguém que nos retirasse do “fogo do inferno”, que nos abrisse as “portas do paraíso”.

O Nietzsche achava tudo isso uma tremenda de uma idiotice. Achar que alguém teria esse poder de nos trazer qualquer tipo de salvação. Isso simplesmente NÃO EXISTE, é IMPOSSÍVEL.

Talvez algum leitor esteja pensando: “Não! Mas Jesus veio à Terra para nos salvar…”. Sabe o que eu digo a você? NÃO. Ele não veio para isso! Ele veio para nos ensinar a AUTOSALVAÇÃO.

O Nietzsche era um profundo estudioso das religiões e tinha uma imensa reverência pelo mestre Jesus Cristo, assim como eu também tenho. Quem me lê sabe bem que ele é e sempre será minha maior fonte de inspiração. Mas não posso me omitir. Trata-se de uma visão muito infantil e religiosa achar que Jesus veio à Terra para nos salvar.

Um simples questionamento é o suficiente para derrubar essa teoria, esse aqui: “Se ele realmente fosse o nosso salvador, todos no seu tempo teriam se salvado, concorda comigo?”. E isso se verifica? Nem preciso responder não é mesmo?

Precisamos retirar da nossa mente essa ideia de que existe alguém de fora, alguém com um poder sobrehumano que pode nos salvar. Só nós através do autoconhecimento podemos nos salvar, e esse salvar não se trata de ir ou não para o inferno, porque isso não passa de uma ilusão. Se trata de evoluirmos em CONSCIÊNCIA e AMOR.

Esse é o objetivo de estarmos encarnados nesse planeta, EVOLUIRMOS. E jamais será através da eleição de um “Messias” que essa evolução se dará!

É interessante que essa reflexão do Nietzsche pode até mesmo ser levada para o campo da política. Toda a política do nosso país é baseada nesse modelo Messiânico. A cada 2 anos elegemos os nossos representantes como se eles tivessem um poder “do além” para resolver os nossos problemas e no fim sempre vemos a mesma cena, homens e mulheres que se aproveitam do poder para enriquecerem, para se autopromoverem e para usufruírem de tudo o que é benesse por conta de um cargo privilegiado.

Isso precisa acabar meus amigos! Esse texto do Nietzsche nunca esteve tão atual quanto hoje. O Brasil está passando por uma das maiores crises já vividas e sua reputação está de mal a por. Nós estamos sendo vistos pelos países do mundo todo como um país da “palhaçada”. Nossos irmãos estrangeiros sentem vergonha alheia e não conseguem entender como é que um país tão rico como o nosso consegue estar “à Deus dará” como vemos hoje!

Se cada um de nós buscasse em consciência saber que a mudança real e consistente não só do Brasil, mas do mundo todo, se dá INDIVIDUALMENTE, nosso mundo já seria diferente! O Nietzsche está criticando isso e nos alertando que é preciso aprender a olhar PARA DENTRO DE SI MESMO e parar de projetar em um “Messias” a cura para todo mal!

Nós precisamos crescer e amadurecer meus amigos e essa breve reflexão é um singelo convite à isso.

Por que em vez de ficar um tempão perdendo tempo com telejornais idiotas, com novelas cheias de histórias repetidas e outras distrações, você não procura o bom livro para ler? Não se engaja em algum projeto social? Tira da gaveta aquele seu projeto da época da escola que você acreditava ser bom, mas hoje pensa ser uma loucura?

É através de pequenos passinhos diários que nossa mudança interna começa a acontecer e se desenvolver.

O Nietzsche usa o elegante termo “pés de barro” para nos falar sobre a HUMILDADE. Custa muito você ter a humildade para não se apoiar em ninguém e depois dizer que errou, que falhou, que não cresceu na vida por causa de fulano, ciclano, porque era dos “desígnios de Deus”

O Nietzsche está nos ensinando com audácia e confiança a assumirmos 100% da responsabilidade por nossas escolhas, por nossos acertos e erros, por nossas “cabeçadas”, tombos, falhas, fracassos!

É assim que se cresce meus amigos! Tendo maturidade e sendo humilde para assumir que é um eterno aprendiz e que nunca estará pronto completamente.

Aquele que pensa estar pronto e saber de tudo, é um arrogante, prepotente e já está morto e nem sabe! Há muito mais a ser abordado e explorado a partir destas instigantes palavras do Nietzsche, mas deixo as reflexões com você agora!

Não queira eleger ninguém para ser um Messias, um guru, pois isso é infantilidade! Seja você o seu próprio mestre. Busque o mestre no único lugar onde ele pode ser encontrado, dentro do seu próprio coração! Desta forma você vai ver que não precisa de ídolos e que ninguém precisa de ídolos.

Os ídolos precisam ser derrubados…

 

2 Comentários

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2 Respostas para “Precisamos aprender a derrubar os nossos ídolos

  1. Tales Oliveira Simões

    Pés de barro, na minha humilde opinião, quer dizer, para Nietzsche, fragilidade de bases, de fundamentos. Ele, que diz filosofar com um martelo, se dá o ofício, a tarefa, de destruir as crenças, notadamente as religiosas, pois são frágeis, uma vez que não dão sustentação (supedâneo) segura, sólida, às estruturas (estátuas) erigidas sob os dogmas cristãos ( barro).

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